sexta-feira, 4 de dezembro de 2009
Dois Mundos dois poços sem fundos
O feitiço da Lua
A Fraga Casamenteira
terça-feira, 3 de novembro de 2009
Semeio e Colho
Era Feita
As Palavras Irreparáveis ou "O Sonho"
Tinham deixado que o tempo corresse um bom bocado depois da passagem daquele sopro mágico que os atraíra um para o outro. Tinham-se conhecido melhor. Tinham observado bem as reacções um do outro. Tinham conversado muito. Tinham construído – a partir dos planos de ambos – um único projecto. Sabiam que o sopro mágico tinha apenas o papel de iniciar uma coisa nova; e que partiria depois de algum tempo. Isso não os assustava. Iam em frente, com esperança, com alegria. E continuavam, depois de chegarem as crianças, contentes por a vida se complicar. Conversavam, discordavam, rectificavam, pediam perdão. Não à frente dos filhos, que tinham de se sentir seguros e não saberiam compreender; que poderiam julgar que o pai e a mãe discutiam. Sucedia, normalmente, cedo ou tarde, o desencanto, a perda de sentido, a vontade de deixar tudo e procurar de novo, noutro lugar, um outro sopro mágico. Mas tinham empenhado a palavra. Tinham pronunciado as palavras que – dentro deles e à sua volta – não tinham retorno.
Ficavam. Iam ficando. Às vezes com prolongada dor, às vezes com um heroísmo de que não se julgavam capazes. O tempo, porém, trazia, devagar, a calma, a alegria serena, a luz que parecia ter desaparecido. Aprendiam que o amor também passa como que por uma conturbada fase de adolescência, até que vem a tornar-se maduro, se purifica, se fortalece e embeleza.
Depois ficavam tão contentes! Tudo tinha sido útil, tudo tinha tido o seu papel. Também a dor; também os esforços que pareciam inúteis; e as cedências e os silêncios e as humilhações.
Viam com toda a clareza como por coisa perdida tinham ganhado mil; como por cada lágrima derramada tinham oceanos de sorrisos; como por cada generosa tentativa, aparentemente frustrada, haviam recolhido cestos e cestos de consolação. Olhavam e viam os filhos e os netos; a casa cheia de rebuliço; tranças louras; corridas atrás do gato; o indescritível prazer de voltar a contar as velhas histórias. “Avó, conta outra vez a da Cinderela”…; “Avô, é mesmo verdade que antes havia duas R.T.P.?”… Viam, como num sonho, o passado e o futuro unidos por um nó que eram eles mesmos. Um nó que nada tinha podido quebrar e permitira o futuro, novos seres, outros sonhos tão iguais aos que eles mesmos tinham sonhado. Haviam suportado a tempestade e passado o Cabo; a Índia estava ali à frente dos olhos; o caminho, aberto para tantos e tantos cujos rostos eles nem sequer imaginavam. Tinham tido um lugar no longo fio da vida; tinham sido alicerce e cimento; tinham as mãos cheias de sol. Nunca morreriam.……………….
(Pode parecer que estive aqui a descrever um quadro que me encantou num museu qualquer… mas não. Sei muito bem que isto, só isto, é real e verdadeiro; que só isto é de hoje e de sempre.)
domingo, 1 de novembro de 2009
O pote rachado
E assim, durante dois anos, o carregador entregou diariamente um pote e meio de água em casa do seu senhor. O pote perfeito, é claro, estava orgulhoso do seu trabalho.
O pote rachado, porém, estava envergonhado da sua imperfeição. Sentia-se miserável por apenas ser capaz de realizar metade da tarefa a que estava destinado. Depois de perceber que, ao longo de dois anos, não tinha passado de uma amarga desilusão, o pote disse um dia ao homem, à beira do poço:
Mas no final do percurso, tendo-se vazado mais uma vez metade da água, o pote sentiu-se mal de novo e voltou a pedir desculpa ao homem pela sua falha. Então, o homem disse ao pote:
- Reparaste em que, ao longo do caminho, só havia flores de teu lado? Reparaste também em que, quando vínhamos do poço, todos os dias, tu ias regando essas flores? Ao longo de dois anos, eu pude colher flores para ornamentar a mesa do meu senhor. Se tu não fosses assim como és, ele não poderia ter essa beleza para dar graça à sua casa.
Existe por estes lados
O tempo e o espaço
Quem Amamos?
sexta-feira, 11 de setembro de 2009
O Banqueiro
- Porque estão a comer relva ?
Não temos dinheiro para comida. - Disse o pobre homem – Por isso temos que comer relva.
- Bem, então venham a minha casa e eu vos darei de comer – disse o banqueiro.
- Obrigado, mas tenho a minha mulher e dois filhos comigo. Estão ali, debaixo daquela árvore.
- Que venham também – disse novamente o banqueiro.
Voltando-se para o outro homem disse-lhe:
- Você também pode vir.
O homem, com uma voz muito sumida disse:
- Mas, Senhor, eu também tenho esposa e seis filhos comigo!
- Pois que venham também. Respondeu o banqueiro.
Entraram todos no enorme e luxuoso carro. Uma vez a caminho, um dos homens olhou o banqueiro e disse:
- O senhor é muito bom. Obrigado por nos levar a todos!
O banqueiro respondeu: - Meu caro, não tenha vergonha, fico muito feliz por fazê-lo!
Vão ficar encantados com a minha casa.... a relva está com mais de 20 centímetros de altura!
Quando pensares que um banqueiro te está a ajudar, pensa duas vezes!!!
terça-feira, 8 de setembro de 2009
Quem Perde o Corpo é a Língua.
Dela
A jogada tinha sido feita com vontade. A roleta girava. Dela, assim se chamava, tinha á sua mercê o casino. A obtenção de dinheiro fácil tinha feito dela, uma perita em números, em sequência de números. Jogando na roleta ou em outro jogo o lucro era sempre superior ao prejuízo. Com frenesim tentou a jogada. Tinha apostado alto. Quando o resultado saiu, o suspiro da plateia tornou-se insuportável para ela. Dela tinha perdido. Tinha perdido tudo. Saiu da mesa em passo rápido e desanimado. Olhou para as ranhuras das máquinas. Tinha algumas moedas que lhe apertavam no bolso. Decidiu sair do casino. Vagueou pelas ruas da cidade que conhecia bem. A noite estava luminosa. O néon das luzes das diversas lojas, misturavam-se com a luz da lua cheia. De vez em quando Dela acenava para alguém que passava. Eram três da manha. Sentiu-se só. Pegou no telefone. Digitou alguns números. Do outro lado a resposta que não estava a espera. Desligou ainda o gravador não tinha acabado. Voltou-se para parque onde tinha deixado o carro. De repente sentiu um calafrio. Alguém a estava a seguir. Voltou-se. Nada viu. Continuou apressando o passo. Entrou no carro e a grande velocidade arrancou. Acendeu um cigarro e ligou o rádio enquanto percorria as avenidas vazias
quarta-feira, 19 de agosto de 2009
O pecado do meu irmão
Neste momento era ele que me importunava. Era ele que se sentia fraco. Era ele que esperava por ver nos meus olhos o seu peito feito. Mas eu não sabia como. Não tinha treino para isso. Meu irmão Guilherme tinha-se desfeito de amores por Vera, mulher casada e com descendência. Mulher bonita como a primavera em finais de Março. Tinha colocado a pele do meu irmão em perfeita irritação de amores. Estranhei não me ter acontecido o mesmo. Cada situação ocorrida ao meu irmão em dobro me acontecia a mim. Vera era bastante límpida, seja feita a devida vénia, e de uma esperteza atroz. Moisés, seu marido era nosso parceiro de trabalho.
Cheirava a cedo nesse dia, mas a vida dele tinha pressa em se realizar. Assim sem nada me dizer, Guilherme, dirigiu-se a casa dela. Sabendo que o caminho era livre, irrompeu casa a dentro. Declarou a sua irritação de pele. Ela atarefada na espera sentiu as pernas quebrar quando recebeu o beijo a muito esperado. Declararam-se marido e mulher naquele momento. E noutros momentos a seguir. Moisés, nem ousou sonhar que a sua mulher se encontrava nos aconchegos de outro homem. Era dono e senhor do seu castelo. E portanto de pouco serviria sonhar se tudo lhe pertencia. Vera era sua propriedade. Assim se pensa por estas paragens. Guilherme tinha o máximo dos cuidados. Todo ele era cuidado, na hora de entrar por aquela porta de perdição. As tardes eram assim passadas em deleite.