quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Eu e o meu irmão


Dia cinzento depois de vários dias de sol. Sentia-me eu desta forma tal como o céu em Agosto quando lhe disseram que deveria ser de Outubro. Desgostoso e com a alma fora do corpo. Depois de varias tentativas falhadas por apaziguar os sofrimentos do meu irmão. Tinha acabado de sentir o despeito de uma mulher. Meu irmão gémeo, sentia-se pesado e sem forças. Jurava a si mesmo que jamais olharia para uma mulher. Não mais faria vénias a uma mulher. Todos os problemas que nos apareciam pela frente eram esconjurados pelos dois. Cada situação exigia sintonia neural. Éramos seguimento um do outro. Desde as traquinices de infância nos sentíamos unidos.
Mas neste momento nada me apetecia fazer a não ser ouvir. Sentir o silêncio das suas palavras. Sentar-me e remoer a sua cor facial. Vermelhas eram as cores das palavras que saiam da sua boca. Sentia nele, e por isso em mim, uma certa fraqueza de pernas. O vento do dia fresco de Agosto batia sem cessar nas nossas caras. O meu sonho, o nosso sonho não aprendera a viajar. Sentia-se preso a terra vermelha que nos circundava. A nossa estrada era triste. Tinha-o acompanhado pelas paragens de uma terra que não era nossa. Procurava, ele, a vida e eu segui-o. O meu cansaço tornava-se velho. Velho me tornava nas suas palavras. Por isso o silêncio era o meu refúgio. Ouvia-o como a fonte ouve a água escorrer. Sem tristeza sem paixão. Apenas ouvia. Ecoava dentro de mim.
Sentia os olhos cheios de dia. Mas não os consegui abrir. Rezávamos juntos. Chorávamos juntos há muito tempo. Sentia falta de sentido. Como alguém dizia não é segurando nas assas do pássaro que ele aprende a voar. Assim sendo estava claro nos meus pés que deveria por estrada neles. Mas eles não obedeciam. Sentiam-se perdidos em chão que meu irmão não pisasse. O brilho nos olhos era feito de sonhos grandes. O receio em falhar tornava-os fracos. Sem a companhia, de peito feito do meu irmão, tornavam-se pequenas sementes sem chão para germinar.
No inicio da minha meninice sentia-me constrangido. Fui o segundo a nascer. Fui sempre o segundo. Era o Guilherme e o segundo. Em circunstâncias especiais tratavam-me pelo diminutivo Beto. Foi ele o primeiro a andar, a falar, a ler, a escrever e tudo o mais. Éramos inseparáveis no entanto. Onde estava o Guilherme estava o segundo. Isto pouco me importava. Quando alguma coisa era bem-feita. Tinha sido o Guilherme. Eu, resguarda-me inventado historias onde eu era o protagonista principal. Era o super herói. O meu super heroi.
Em determinada ocasião as forças cresceram em mim. A propósito de uma situação sem história estrebuchei com meu irmão. Ele surpreso fincou os olhos em mim. Com o silêncio me desarmou. Desde esse dia passei a recear aquele olhar. Apenas me resignei ao meu canto escuro. Tinha desta forma, formatado a minha vida. A luz e sombra estavam sempre presentes. Certa vez, no recreio da escola, por não ter respondido a uma questão, que já não me lembro, levei tal arraial de porrada de um colega que o meu espírito se separou do meu corpo. Ainda vi no entanto Guilherme a socorrer-me e ao mesmo tempo a enfiar o nariz do meu agressor pela cara dentro. Desde esse dia decidi que guerra não era meu afazer. O medo faz aumentar as distâncias. Distância era o que queria sobre alguma coisa que cheira-se a bulha.
Guilherme tinha-me arrastado, para esta terra de nenhures. Dizia que nada fazemos se nada queremos fazer. Que para ele a oportunidade de viajar é mais forte que a de criar raízes. Apenas temos de voar. De sentir o cheiro do som. O som de outro lado e não do que esta a nossa frente. Que para sentir a vida devemos forçar-nos a não perder a esperança a não fugir. Não queria perder confiança e esconder-se. Achei nessa altura sábias as palavras. Por isso o acompanhei

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