quarta-feira, 29 de julho de 2009

Ao Fim da Tarde (Parte II)


César a caminho do centro comercial ia pensando o que terá levado a que ela o tenha convidado. Tinha sido sempre ele a propor os cafés ao fim da tarde. Hoje já não era hora do café. Era hora de jantar! Chegou, o encontro foi feito na esplanada onde durante muitas horas a fio conversavam. Onde César em conversa nem se apercebia dos cigarros que fumava. E Mafalda na sua paciência lhe dizia que um dia iria apanhar um susto que o obrigaria a deixar de fumar. Tinham-se conhecido ocasionalmente. Ele e os seus colegas de trabalho tinham durante uma tarde e noite trabalhado arduamente num projecto que era necessário entregar no dia seguinte. Um deles tinha proposto descomprimir ao fim da noite num bar que tinha conhecido dias antes.
O apartamento onde se encontravam era pequeno. Três divisões: quarto, sala e cozinha. A sala pequena, era acolhedora. No entanto era na cozinha onde Mafalda passava mais tempo. A ensinar o filho como comer sozinho, como o fazia no colégio. Por vezes fazia birra, queria o carinho da mãe. Nandinho por tudo e por nada implorava a presença da mãe. Fazia-a sentir que tinha obrigatoriamente que viver para ele. Ela já estava cansada que o mundo gira-se apenas a volta dele. Com quatro anos já era um sedutor nato. Quando as coisas azedavam os olhos expressivos dele amoleciam o coração da mãe que o faziam ser o homem mais importante da vida dela. Aliás era o único homem da vida dela depois do pai se ter “pirado” com a sua melhor amiga e a ter deixado com a criança para cuidar ao fim de cinco meses de ter nascido. Mafalda tinha-se sentido sem norte. Mas com força e gana foi cuidando dele o melhor que pode. César estava a par desta situação.
A mensagem “Preciso de ti” ainda ecoava na cabeça de César quando a campainha tocou e ela lhe disse “Vou buscar o miúdo a porta”. Nandinho tinha chagado do colégio. Olhando em volta sentiu-se um pouco fora de contexto, no entanto não sentiu receio algum. Acomodou-se no sofá. Ligou a televisão. O miúdo traquina, como todos, veio directamente para a sala. “Quem és tu?” A mãe atalhou-o antes de se ouvir a resposta de César. “É um amigo da mama, que veio cá jantar hoje”. “Posso ver o canal Panda” replicou o pirralho. Automaticamente César saltou do sofá e deu-lhe o comando da televisão. “Podes”, respondeu a mãe. César sem jeito olhou Mafalda e sem proferir uma palavra perguntando-lhe o que devia fazer. Ela sentiu o seu olhar de socorro. “Podes ajudar-me na cozinha”. O jantar estava pronto. Não houve troca de palavras a não ser as de circunstância. Comeram o prato preferido de Nandinho, esparguete com almôndegas. Entre troca de palavras entre mãe e filho pouco mais se passou durante o jantar. César ofereceu-se para lavar a loiça enquanto a conversa sobre a escola e o dia se desenrolava entre mãe e filho. Depois foi enfiar-se no sofá a ver televisão. A divisão da sala tinha um sofá pequeno e um grande. Mãe e filho posteriormente sentaram-se e aninharam-se os dois no sofá grande. O miúdo adormeceu ao colo da mãe. Houve poucas palavras trocadas. A televisão absorveu qualquer conversa possível. Por vezes havia olhares entre eles. César esboçou um esticar de mão para tocar o braço dela. Ela não reparou. O torpor aumentava e o miúdo dormia já profundamente. A novela na TV mostrava situações de vivencia entre pessoas. Relações de amor, inveja, ódio, amizade, etc. Numa delas, Mafalda vendo que era parecida com a que estava a viver olhou para César. A posição dele na sala era mais recuada mas os dois sofás quase se tocavam. Esticou a mão. A mão dela foi ao seu encontro. Trocaram carícias e os dedos entrelaçaram-se. O miúdo estremeceu. A mãe levou-o para a cama. O silêncio voltou. Á César, apeteceu-lhe um cigarro. Levantou-se e perguntou onde poderia fumar. Mafalda indicou-lhe a varanda da cozinha. Foi fumar sozinho. Pensamentos libidinosos assaltaram-lhe a mente. Mafalda desejava-o. César sentiu-se bem. Tão bem como à muito não se sentia. Voltou para a sala. Mafalda tinha-se esticado no sofá. Estava com um ar lânguido. Olhou-o nos olhos. Levantou as pernas convidando-o a sentar-se ao pé dela. César, aceitou o convite, sentou-se e colocou as penas de Mafalda no seu colo e começou a acaricia-las. Mafalda nem barafustou com o atrevimento. Sentiu-se bem. Como por magia as mãos tinham vontade própria. César já não as controlava e nem controlava as emoções. Mafalda deixou-se levar. As mãos dele percorriam-lhe as pernas, o ventre. A libido aumentou de intensidade. De um momento para outro beijaram-se. Os dois olhares dirigiram-se para a porta entreaberta do quarto. O miúdo dormia. Não havia sinais de perturbação dentro do quarto. César levantou-se e apagou a luz. Na penumbra amaram-se profundamente naquele sofá.

domingo, 19 de julho de 2009

Ao Fim da Tarde ( Parte I )

Ao fim da tarde César sentiu-se nostálgico. Como todas as tardes de alguns dias atrás tinha este sentimento de melancolia. Questionava que vida era a dele, o que iria fazer nesta fase da sua vida. Que mais poderia fazer se não existir. Sentia-se pesado. A cabeça pesava. O corpo pesava. Não estando obeso, sentia-se com toneladas de gordura. Tinha saído de um divórcio prolongado. Tão prolongado que demorará cinco anos a decidir-se por uma nova etapa da vida. Sentado na escada exterior do sitio onde á três meses alugará um quarto, sentiu-se nessa altura vazio. Com forças apenas para pegar no cigarro e deitar para fora baforadas de fumo que o consumiam interiormente. César não tinha mais que trinta e cinco anos. Sentia-se, nessas alturas, um velho quer física quer psiquicamente. De nada lhe valia, os momentos bons que recordava. Tinham-se tornado causa e consequência do seu estado de letargia. Tinha ficado preso a essa nostalgia que o consumia tal como o fumo do cigarro lhe consumia lentamente o cigarro. Neste impasse o telefone avisa-o de uma mensagem. Uma simples frase “Vem ter comigo ao centro comercial” fez com que tudo o que lhe afligia, fossem meras paranóias. Não estava assim tão velho e que a vida deveria continuar.

O SMS tinha como endereço Mafalda. Mulher bonita com algumas rugas mas que só acentuavam o seu charme. Pertencia a classe de mulheres que existiam para fazer feliz o homem que para ela olha-se. Pernas musculadas, mas sem exagero, provenientes da natação e do bailado que quando menina fez. Cara redonda e olhos rasgados como se de um gato se trata-se, em realidade uma gata. E estava no cio. Pensou ele. Só assim se explicava o SMS. Tinha-a convidado diversas vezes. Tinha-lhe proposto programas de toda a espécie. Mas nunca os aceitou. As desculpas eram várias. Tenho algum trabalho que trouxe do escritório para fazer, ou estou cansada e seria má companhia. Estas desculpas só não faziam sentido para a cabeça machista de César como o faziam sentir inútil e sem vontade de a convidar mais. No entanto os seus convites jorravam e era rara a semana que não lhos fizesse. Olhando o telefone incrédulo pensou” o que despoletou o interesse para me convidar, o que terá acontecido?” Vestiu-se, colocou algum perfume debaixo dos sovacos e arrancou para o centro comercial onde muitas e muitas vezes bebia um café com Mafalda.

César não podia dizer que se sentia atraído pelo corpo dela. Os seios aparentando dureza, o tronco algo forte e as pernas musculadas faziam-no sentir com receio e não a imaginava na cama com ele. Em determinados momentos as conversas passavam de banais a significativas. O significado de algumas, davam-lhe alento à vida. Os pontos de vistas eram semelhantes, as experiencias vividas eram equivalentes. Apesar dos vinte e oito anos de Mafalda, ela já tinha vivido dois casamentos fracassados dos quais resultou o nascimento de um filho. Eram pequenas coisas que os uniam e os faziam sentir bem um na presença do outro. Não havia assim a troca de “ Tenho que me ir embora” ou “Desculpa mas já é tarde”. Entre eles o tempo não contava e os silêncios eram sublimes. Cada palavra tocava-os intimamente. Tinham-se visitado e viciado na companhia um do outro. Mas dai não passavam. O receio talvez fosse mútuo. Por vezes Mafalda contava as suas aventuras esporádicas e curtas outras vezes era César que com alguma insistência por parte dela lhe contava as suas. O receio em perder esta companhia tão preciosa tornava-o tímido nesses assuntos.

Aquela Mulher


Existia nele uma ânsia de saber. No saber teórico e no saber baseado na experimentação. Nada se comparava em conhecimento que a experimentação. Para isso existia nele a vontade férrea de tudo experimentar. Por mais ínfimo, mais insignificante deveria servir para experimentação. A vida tinha-lhe dado de tudo um pouco. Agruras, angustias, felicidades, risos, amizades, amores, pobrezas, riquezas e infelicidades. Mas nada se comparava a riqueza de ver o sorriso de uma mulher, a sua sensualidade quando ela estava em plenitude como seu corpo e espírito. Vivia para as ver felizes. Tentar captar essa essência celestial. Esse “não sei o que” que imana de uma mulher quando na maior das infelicidades que a vida por vezes traz mostra toda a sua feminilidade, toda a beleza poderosa que tem dentro. Sentia-se pequeno, sentia pequenos os seus problemas quando comparados com a grandeza na resolução simples que as mulheres têm de enfrentar os problemas. Era pura e simplesmente magia. Nada as abalava, nada as atingia enquanto raciocinavam para a resolução do problema. A rapidez e a fugacidade, a empatia da descoberta, eram feitas com a maior das canduras. Tudo se tornava claro naquelas mentes. Transtornava-o a simplicidade de raciocínio a beleza da resolução. Fascinava-o a passagem para outra situação. Era puramente divinal. A experiencia e a experimentação tornava-o um pouco mais sabedor. Mas por momentos sentia-se desconcertado pois um facto que permitia uma determinada reacção tinha uma reacção diversa. Tornavam-se obsoletas as conclusões. Voltava novamente a refazer os cálculos. Voltava ao “laboratório” novamente e novamente experimentava. Concluía novamente. E novamente se sentia desconcertado. As reacções não eram as esperadas. Quem diria que elas descendiam do pai de toda a humanidade. A costela perdida que todos os homens procuram na realidade não esta presente na mulher que procuram mas sim na mulher que lhes deu origem. Nesse bendito ser que o trouxe durante nove meses no seu interior. Que por vezes apenas se sentiria seguro novamente dentro dele. Que procurando insistentemente noutro local não o encontra com a segurança suficiente para ai se refugiar. Que por isso todo o homem procura um abrigo parecido com aquele onde já viveu e do qual chorou ao sair. Mas experimentando voltou ao seu estudo e concluindo sentiu vontade de gritar. Pois quando se encontra refúgio parecido os dois são antagónicos. Deputam a posse de si de tal forma forte que uma guerra fratricida é uma metáfora pouco forte para o descrever. Que é de tal forma feia a guerra que parecem dois “Hércules” a segurarem as torres do mundo por ele. E grita novamente. Basta. E voltando a experimentação e ao “laboratório” volta a ficar desconcertado, desamparado pela fragilidade que as mulheres apresentam. De tão rijas tornam-se moles no momento de amar. Sentem-se frágeis sem amparo. Uma reacção que merecia uma resposta forte, não existe. Enfraquecem, tornam-se vulneráveis. A mulher ama… Ama incondicionalmente… Para o provar ao homem … Ao mundo e a si própria … O homem apenas ama a mulher… O mundo é adereço para ele… As outras são potenciais refúgios… Os concorrentes apenas são espectadores neste circo. E volta novamente a ficar confuso. Não quer mais experimentar, resolver o mistério. Apenas se sente sem forças para continuar. Nada na mulher é coerente, nada na mulher é constante, nada na mulher é previsível, nada na mulher é reprodutível, nada na mulher é teórico apenas tudo é uma mera hipótese que a cada passo é refutada.