domingo, 19 de julho de 2009

Ao Fim da Tarde ( Parte I )

Ao fim da tarde César sentiu-se nostálgico. Como todas as tardes de alguns dias atrás tinha este sentimento de melancolia. Questionava que vida era a dele, o que iria fazer nesta fase da sua vida. Que mais poderia fazer se não existir. Sentia-se pesado. A cabeça pesava. O corpo pesava. Não estando obeso, sentia-se com toneladas de gordura. Tinha saído de um divórcio prolongado. Tão prolongado que demorará cinco anos a decidir-se por uma nova etapa da vida. Sentado na escada exterior do sitio onde á três meses alugará um quarto, sentiu-se nessa altura vazio. Com forças apenas para pegar no cigarro e deitar para fora baforadas de fumo que o consumiam interiormente. César não tinha mais que trinta e cinco anos. Sentia-se, nessas alturas, um velho quer física quer psiquicamente. De nada lhe valia, os momentos bons que recordava. Tinham-se tornado causa e consequência do seu estado de letargia. Tinha ficado preso a essa nostalgia que o consumia tal como o fumo do cigarro lhe consumia lentamente o cigarro. Neste impasse o telefone avisa-o de uma mensagem. Uma simples frase “Vem ter comigo ao centro comercial” fez com que tudo o que lhe afligia, fossem meras paranóias. Não estava assim tão velho e que a vida deveria continuar.

O SMS tinha como endereço Mafalda. Mulher bonita com algumas rugas mas que só acentuavam o seu charme. Pertencia a classe de mulheres que existiam para fazer feliz o homem que para ela olha-se. Pernas musculadas, mas sem exagero, provenientes da natação e do bailado que quando menina fez. Cara redonda e olhos rasgados como se de um gato se trata-se, em realidade uma gata. E estava no cio. Pensou ele. Só assim se explicava o SMS. Tinha-a convidado diversas vezes. Tinha-lhe proposto programas de toda a espécie. Mas nunca os aceitou. As desculpas eram várias. Tenho algum trabalho que trouxe do escritório para fazer, ou estou cansada e seria má companhia. Estas desculpas só não faziam sentido para a cabeça machista de César como o faziam sentir inútil e sem vontade de a convidar mais. No entanto os seus convites jorravam e era rara a semana que não lhos fizesse. Olhando o telefone incrédulo pensou” o que despoletou o interesse para me convidar, o que terá acontecido?” Vestiu-se, colocou algum perfume debaixo dos sovacos e arrancou para o centro comercial onde muitas e muitas vezes bebia um café com Mafalda.

César não podia dizer que se sentia atraído pelo corpo dela. Os seios aparentando dureza, o tronco algo forte e as pernas musculadas faziam-no sentir com receio e não a imaginava na cama com ele. Em determinados momentos as conversas passavam de banais a significativas. O significado de algumas, davam-lhe alento à vida. Os pontos de vistas eram semelhantes, as experiencias vividas eram equivalentes. Apesar dos vinte e oito anos de Mafalda, ela já tinha vivido dois casamentos fracassados dos quais resultou o nascimento de um filho. Eram pequenas coisas que os uniam e os faziam sentir bem um na presença do outro. Não havia assim a troca de “ Tenho que me ir embora” ou “Desculpa mas já é tarde”. Entre eles o tempo não contava e os silêncios eram sublimes. Cada palavra tocava-os intimamente. Tinham-se visitado e viciado na companhia um do outro. Mas dai não passavam. O receio talvez fosse mútuo. Por vezes Mafalda contava as suas aventuras esporádicas e curtas outras vezes era César que com alguma insistência por parte dela lhe contava as suas. O receio em perder esta companhia tão preciosa tornava-o tímido nesses assuntos.

Sem comentários:

Enviar um comentário