sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

A Fraga Casamenteira


Por aquela altura existia uma lenda que dizia que se uma rapariga com a idade de se casar se aproximasse da fraga casamenteira e lhe atirasse com uma pedra e ela ficasse presa em cima dela era certo que no ano a seguir se casaria.
Assim todos os anos as potenciais candidatas, treinavam e treinavam numa fraga próxima. Só quando já se consideravam haveis é que iam para o ermo em frente da dita fraga tentar a sua sorte
Pensaremos nós que seria fácil colocar um pequena pedra em cima de um grande morro. Mas não, a fraga tinha as suas manhas. Era escorregadia e raramente a pedra ficava lá em cima. E mais durante um ano inteiro.
Joaquina, tinha conhecido um rapaz bem afeiçoado de uma aldeia vizinha durante a festa do padroeiro São Bernardino. Nunca mais o tinha visto desde esse dia. Apesar de não acreditar na lenda, por vias das dúvidas, treinou com as suas amigas o “jogo da pedra”. A dificuldade não residia em atirar e fazer com que a pedra ficasse lá no alto da fraga. Mas sim no tempo que tinha disponível para isso. Por vezes á noite lá ia treinar.
- Meu Bom Jesus, fazei com que esta pedrinha não caia.
Dizia, erguendo a pedra para o alto e rezando um Pai Nosso. Depois sem hesitação levantava o braço bem alto e com determinação envia a pedra no caminho da fraga. Mas a fraga era maliciosa e não deixava que a pedra ficasse em cima dela. Mais uma vez, e mais outra e outra. Até se cansar. Depois de várias tentativas falhadas, lá ia para casa descansar e pensar que o Bom Jesus não a queria ainda casada esse ano.
 Iam correndo os dias naquela pacata aldeia. Os meses passavam, as moças em tempo de casar, casavam. Joaquina cada vez mais sentia que o ano do seu casamento não chegava. No entanto nunca desistiu. Quando tinha tempo, entre os afazeres diários, e em especial depois da missa de domingo, lá ia ela. Umas vezes em companhia das amigas outras vezes a socapa, atirar a pedra para a fraga. Mas ela respondia-lhe sempre que ainda não tinha chegado o seu tempo.
Passado algum tempo, Joaquina já considerava que ia ficar para tia. As duas irmãs mais novas que ela já tinham casado. Uma delas já lhe tinha dado dois sobrinhos.
Ela continuava a ter esperanças. Nunca mais viu o moço por quem se tinha afeiçoado durante a festa de dois anos antes. Nunca mais soube notícias dele. Perguntava-se, onde ele estaria, o que estaria a fazer, talvez tivesse já casado.
Numa manha de primavera, acordou muito bem-disposta. Ao tomar o mata-bicho pensou no que tinha para fazer. E que deveria arranjar um tempinho nesse dia ao entardecer para ir deitar a pedrinha a fraga casamenteira. Assim o pensou e assim o fez. Já o dia escurecia e Joaquina de frente para a fraga fazia a sua prece. De repente levantou-se um pequeno remoinho. Os cabelos dela ondulavam, numa extrema suavidade. Olhando arregalada para o centro do remoinho viu um Anjo que lhe disse.
-Não te assustes, sou o teu Anjo da Guarda. As tuas preces foram ouvidas. Pega na pedrinha redonda que se encontra a tua direita e lança-a.
Joaquina um pouco aturdida com a aparição pegou na pedrinha. Pensou que ninguém escolheria aquela pedra para a lançar. Redonda como ela era não se iria segurar em cima da fraga escorregadia. No entanto lanço-a com um fervor e uma fé que em nada fica atrás da de um santo.
Qual não foi o seu espanto que a pedra ao cair na fraga ficou lá agarrada. Não se conseguiria distinguir a fraga da pequena pedra. Tinha lá ficado gravada. E ainda se lá encontra como um pequeno diamante incrustado. O anjo voltou a falar com ela.
- Vai para casa e reza todos os dias um Pai Nosso ao Bom Jesus. Espera pelo teu casamento em paz pois ele esta para breve.
Tal como apareceu num remoinho o seu Anjo da Guarda, assim desapareceu. Ainda não era noite mas pelo caminho, Joaquina sentiu-se em paz e comungou com o universo aquela sabedoria que só as pessoas com uma fé inabalável o conseguem fazer.
Passaram-se os dias, os meses mas Joaquina mantinha aquela fé inabalável. Numa tarde de verão apareceu por casa de seu pai um moço a pedir trabalho. Era o rapaz, já feito homem por quem Joaquina se tinha afeiçoado três anos antes. Foi tamanha a alegria que como ele também não a tinha esquecido que logo ali foi marcada a data do casamento.
António e Joaquina casaram no dia do Santo Padroeiro da Aldeia, São Bernardino. Sempre que alguma coisa os afligia iam os dois até a fraga casamenteira ver o belo “diamante” que incrustado se mantinha sempre brilhante a qualquer hora do dia.

1 comentário:

  1. Muito bom, adorei...
    Estás um escritor cinco estrelas, continua que eu vou tentar seguir as tuas histórias/lendas. Adorei a Joaquina e o António, muiiiiiiiiiiiiiito bom . Beijinho para o meu escritor favorito...

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