domingo, 1 de novembro de 2009

O tempo e o espaço

Sentia-se pesado. Não estando apaixonado por ela, a sua companhia fazia-lhe bem. Era um misto de prazer e profundo carinho. Notava nela algo mais que isso. Companheirismo. Requeria dele a presença constante. Era um arrebatamento que em determinadas alturas, a ela lhe doía a alma. Ele não sentia o mesmo. Mas sentia o dela, e com ela se arrebatava. Com ela trocavam feridas abertas. Ela sem falar. Ele derramando tudo para fora. Outras vezes apenas estava. Tornava-se leve o momento em que falavam de coisas banais. Pesado quando se tocavam em emoções. Apenas o era existia. Apenas o sentir se proclamava. Apenas desabafava existia. A torrente aumentou o caudal. O abraço tornou-se mais amplo. As canseiras tornavam-se motor de tudo. O rodopio da carne fingia ser panaceia para todos os males.
No inicio ele colocava o tom no seu pensar. Não sabia o que queria. Apenas lhe dizia o que não queria. Sentia-se no carrossel das emoções. Perigoso, mas de nada fugia. Não, não era palavra do seu dicionário. Assumiu o compromisso interno. Em piruetas amargas e cheias de suor amarou o barco no porto. Em nada se mostravam. Não se regiam por compromisso nenhum. Apenas o que cada ser humano deve ser para si próprio, amado e amante. Ele pensando nela.
Tornava-se incrédulo. Partilhava o espaço dela. A sua imagem, o seu cheiro quando saía, ficavam lá. Ela pensando verificava que algo dele ficava para trás. Ele, dela trazia lembranças de bons mementos passados. De algumas indisposições. Mas pouco mais. Os contactos passaram a ser mais frequentes. As emoções vividas mais fortes. O partilhar era o mútuo. Partilhavam ideias. Partilhavam emoções. Partilhavam vivencias. Partilhavam corpos. No fundo a disponibilidade dele comandava. O espaço de partilha era dela. Mas o tempo de partilha era dele. O humor, em determinadas alturas, alterava-se. O espaço tornava-se pequeno para ele. Dono do mundo se sentia. O mundo para ele era pequeno demais. O tempo para ela era escasso. Queria todo o tempo do mundo. Queria ser dona do tempo. Pouco tempo não era nada. Tempo nenhum era insuportável.

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